O Mundo do Futebol

A vida de treinador de futebol

Aquilo que se sente ou alcança a cada conquista, a cada obrigado, a cada elogio ao nosso trabalho é indescritível e mais gratificante do que qualquer recompensa material. Mas, a vida de treinador de futebol é também muito desgastante. O seu sucesso ou insucesso depende dos resultados. A vida de treinador obriga-nos a falhar muitas vezes como pai, como marido, como namorado e como amigo.

São muitas as coisas escritas sobre o que é ser treinador de futebol. Muitas são as tarefas a si atribuídas, mas poucas são relacionadas com o ato de treinar. Um treinador tem que motivar a sua equipa todos os dias. Temos que criar condições para desenvolver as competências do atleta, valorizando o atleta e o grupo com quem trabalha. O desenvolvimento individual em prol do coletivo deve ser sempre a prioridade!

A vida de treinador de futebol é só por si apaixonante, mas também muito desgastante. O treinador não joga, quem joga é o jogador. Está sempre dependente de outros em todos os momentos. Logo, a vida de treinador não pode ser apenas alimentada pela paixão. O conhecimento é muito importante, tal como a motivação, estes são dois factores de grande relevo na vida do treinador. Temos que conseguir conduzir a equipa a determinados comportamentos táticos, dentro do campo, o que nem sempre é fácil. Muitos, antes de criticarem sobre a forma como uma equipa joga, deveriam tentar primeiro saber como a mesma treina. Porque a forma como treinamos influencia muito o rendimento que teremos no jogo!

É importante perceber a diferença do contexto em que trabalhamos. Muitas vezes confunde-se o amador com o profissional, obviamente todos têm dificuldades e limitações. Mas, num contexto amador não restam dúvidas que as dificuldades são muitas e diversas. Num contexto amador os poucos recursos existentes criam muitas dificuldades ao trabalho diário do treinador.

A falta de mentalidade, rigor, exigência, profissionalismo existente nos clubes é gritante. São fatores que interferem diretamente com o trabalho de uma equipa técnica e as pessoas precisam perceber isso. Se o roupeiro não fizer o seu trabalho, se o fisioterapeuta não for competente, se a relva não estiver boa, se o motorista não estiver comprometido, se os responsáveis pelo almoço não cumprirem e a direção não agir no momento certo, torna-se tudo ainda mais difícil.

O treinador não pode estar sozinho com a sua equipa técnica e jogadores, e isto, hoje em dia, ainda é muito regular acontecer. Exige-se depois o cumprimento dos objetivos mas sem elaborar qualquer análise aos mesmos. O treinador, muitas vezes, é o único que insiste numa autoavaliação onde analisa o que poderiam ter feito e não fizeram para melhores resultados. Os outros elementos continuam assim focados em apontar o dedo, na maior parte dos casos, ao treinador. Com isto, a direção tende em ponderar tomar decisões sem estudar se os objetivos serão pouco realistas, tendo em conta a situação atual do clube.

As televisões transmitem a ideia que a vida do treinador é simples. Mas, acreditem que em nada corresponde à realidade. Treinador sofre, não desfruta muito das vitórias. Tem muitos conflitos internos quando as coisas não resultam. O treinador que seja profissional ocupa muito do seu tempo com as tarefas. Com isso abdica de momentos da sua vida pessoal, muitos deles impossíveis de recuperar.

É importante que as pessoas saibam que na vida de treinador, seja em que contexto for, estamos sempre muito ausentes, mas é também essencial para o treinador saber que a família o apoia. Para seres treinador precisas ter a teu lado uma companheira que esteja muitas vezes disponível para ser pai e mãe. Precisa de fazer perceber a namorada que aos sábados à noite é para preparar o jogo. Tem que explicar aos filhos que não os pode levar ao parque pois está com pressa para ir para o treino. Não pode ir busca-los à escola porque se atrasou no trabalho e já vai a caminho do treino. Que não janta com eles e jantam só com a mãe porque tem treino. Que não está na festa de anos quando os amigos chegarem porque está no jogo. Tudo isto é duro e é uma gestão que o treinador está obrigado!

Fazemos tudo isto pela paixão. Paixão pelo treino e pelo jogo. Muitas vezes cansado, esgotado de um dia de trabalho nada fácil, às vezes até ressacando de um domingo frustrante que não correu como planeado. Depois de ser enxovalhado por dezenas de pessoas que apenas olham ao resultado e apontam-lhe o dedo. O treinador não tem quem o motive, a sua motivação é intrínseca. A motivação é o sonho de chegar um dia ao topo e ter o retorno merecido. Mas, sabemos que há uma hipótese mínima de lá chegar.

Não obstante de tudo isto, é importante acreditar sempre mais, porque só vencem os que acreditam e nunca os que desistem. É primordial que o treinador se mantenha dedicado, comprometido, acreditando que a sua vez vai chegar. Enquanto treinador o dinheiro não é o mais importante mas sim, que lhe seja dada a oportunidade de mostrar o seu valor.

É importante sermos sempre um treinador profissional com comportamentos condizentes com a função e exigir que os outros também o sejam. A vida de treinador é dura e desgastante, mas acima de tudo desafiante e apaixonante onde todos os dias aparecem novas oportunidades para crescer.

Isto é a vida de um treinador!

Autor: Mário Nelson

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